O Bufão



A técnica teatral do bufão possui princípios baseados em seres grotescos, banidos e não condizentes com padrões estabelecidos pela sociedade, que acompanham a humanidade desde o início dos tempos. Aqueles que eram conhecidos como bobos da corte na Idade Média, que serviam como bode expiatório nos rituais primitivos e que hoje, bem poderiam ser estes que estão pelas ruas, com seu humor ácido, sua língua afiada e sua aparência destoante da convencional.

A figura do bufão esteve muito presente em nossa sociedade, arte e cultura, fazendo repercutir o riso, a crítica social e as manifestações profanas. Entretanto, o bufão desaparece na Modernidade, devido à mudança de valores e à maior importância dada à razão do que à religião, bem como à domesticação do riso. E quanto ao seu ressurgimento como “Máscara Teatral” no século XX, esse se deve ao resgate da cultura popular realizado por encenadores vanguardistas, como Meyerhold, que reagia contra o naturalismo e buscava o que era teatral, poético e transfigurado.

“As Bufa” é um espetáculo que busca essa teatralidade poética transfigurada e que procura também revelar a poesia que existe naquilo que consideramos feio e miserável, fazendo com que se perceba a humanidade de figuras que, no princípio, parecem puramente grotescas. Nesse sentido, o espetáculo não somente retrata a vida de dois bufões, mas também comunica um ponto de vista social e artístico, no qual atrizes diretoras acreditam, defendendo a ideia de que uma expressão artística genuína pode partir também de seres humanos marginalizados, excluídos e afastados do centro comum em torno do qual a sociedade gravita.